RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Casados há 24 anos, a consultora de viagens Ligia da Silva Ferreira, 47, e o motorista Euclides Adelino Ferreira, 55, afirmam que o segredo de uma relação longeva inclui gostar de passar tempo juntos e manter um pé na realidade.
“No Dia dos Namorados, fazemos de acordo com o bolso, se der pra sair ou dar um presente bem, se não der, fazemos algo em casa mesmo, mas nunca deixamos de nos curtir e comemorar a data. Sempre estamos juntos e isso é mais importante que presentear”, diz a consultora.
Este ano o casal combinou que não iriam trocar mimos, pois ganharam da sobrinha uma viagem para Natal (RN) e o valor que usariam para a celebração vai ser gasto em passeios na cidade. “Nunca fiquei chateado se recebi ou não algum presente dela. Costumamos ficar em casa juntinhos para comemorar. Tomamos um bom vinho, trocamos ideias”, conta o motorista.
Demonstrar carinho, amor e cuidado nem sempre passa pela compra de presentes. Para o Dia dos Namorados, casais combinam limite de gastos, dizem o que preferem ganhar e até optam por não comprar nada. A escolha visa assegurar a saúde do relacionamento e evitar frustrações pessoais.
A terapeuta comportamental Tamiris Gallano, psicóloga e mestre pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), aponta que o primeiro ponto a ser considerado em celebrações que demandam consumo é que a frustração é uma emoção sentida quando um propósito é bloqueado.
“Então, quando você dá um presente de Dia dos Namorados é importante ter clareza de qual é o objetivo. Se for uma reação específica da pessoa que receberá, há grandes chances de você se frustrar, uma vez que não controlamos a reação e a emoção das outras pessoas”, afirma.
Sobre os presentes, a melhor maneira de evitar a decepção, de acordo com Gallano, é comunicando o que quer ou não ganhar. “Temos uma cultura que nos ensina que se pedirmos um presente, ele perde o seu valor, [mas] sempre digo para meus pacientes: a pessoa certa, com o presente certo, com a fala certa, na hora certa, é coisa de comédia romântica e não da vida real”, diz ela.
Se receber um mimo que não gostou, também vale a pena falar com o parceiro. Dizer que entende a intenção, mas que o produto ou experiência não faz sentido para você é uma saída, segundo a especialista.
“Não é que seja um presente ruim, mas é algo que provoca essas emoções e reações que não te deixam confortável por algum motivo. A gente às vezes fica muito preocupado em desagradar e passa anos recebendo o que não gosta. É importante dizer como é que você se sente”, indica Gallano.
Outro ponto de reflexão é que há diferentes formas de demonstrar os sentimentos em datas especiais -e o presente é apenas uma delas. A preocupação com a saúde financeira do parceiro ou parceira também demonstra cuidado.
Se o objetivo for surpreender, é importante focar em valores pessoais do parceiro, em atos que façam o outro se sentir bem e pensar na relação que os envolvidos querem e gostam de ter, segundo a terapeuta.
Para casais juntos há mais tempo ou até casado, o Dia dos Namorados não deve ser uma obrigação, mas uma oportunidade de relembrar ao outro que você se importa com ele.
“Troca de presentes não tem data de validade. Não necessariamente precisa ser presente, mas presentear é uma forma simbólica, social e culturalmente aceita de demonstrar que você sente algo por aquela pessoa”, diz.
Gallano reforça, porém, que é preciso evitar gestos por pressão social. Mesmo em datas comemorativas, ela recomenda lembrar que os parceiros não devem ser obrigados.
“Se quero ser uma pessoa que faz com que a outra se sinta amada e cuidada, alguém amoroso, cuidadoso, carinhoso, existem muitas formas de exercitar esses meus valores na relação, e o presente pode ser uma delas”, diz ela.
Autor(es): DANIELLE CASTRO / FOLHAPRESS