Consumo de álcool aumenta risco de 61 doenças, segundo estudo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma nova pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade de Oxford e de instituições da China observou que o consumo de álcool aumentou os riscos para o aparecimento de 61 doenças em homens chineses. Desse total, 28 já eram consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como associadas ao consumo de bebida alcoólica, mas o estudo chama a atenção para outras 33 ainda não consideradas dessa forma.

Para chegar a essa conclusão, os autores acessaram o China Kadoorie Biobank, um banco que compila informações biológicas e de saúde de chineses. Na pesquisa publicada na revista Nature Medicine, dados de cerca de 512 mil pessoas foram consideradas: 210 mil eram homens e 302 mil, mulheres.

Os homens eram os que mais bebiam desde o início da pesquisa: 33% afirmaram que consumiam bebida alcoólica pelo menos uma vez por semana. Entre as mulheres, a prática só foi relatada por 2% delas.

Os participantes foram acompanhados por cerca de 12 anos para observar o que acontecia com eles. Esse tipo de estudo é chamado observacional: os pesquisadores segmentam os integrantes do estudo por um hábito -no caso, se consumia ou não álcool- e depois tecem relações com o que ocorreu.

Normalmente, esses desfechos só são acessados anos depois e variam com o objetivo da pesquisa: neste estudo, foi o desenvolvimento de doenças e casos de hospitalizações.

Sobre as complicações, o estudo observou que o álcool aumentou o risco de 61 doenças de um universo de 207 enfermidades. Nesse número, já estão inclusas 28 doenças consideradas pela OMS como relacionadas ao álcool. Diabetes e tuberculose são dois exemplos. As outras 33 complicações não relatadas pela organização envolvem câncer de pulmão e de estômago, além de problemas gastrointestinais, para citar alguns exemplos.

Algumas tiveram implicações mais sérias, mas, para outras, o risco foi baixo. Um exemplo é a catarata: a chance para aparecimento do problema ocular foi 8% maior entre os que bebiam regulamente em comparação a quem consumia de forma ocasional. Para câncer de laringe, o risco mais que dobrava.

O álcool também teve relação com maior risco de precisar de ajuda hospitalar, principalmente entre aqueles que bebiam de forma regular. Esse grupo em comparação aos participantes que consumiam de modo mais esporádico apresentou um número maior de hospitalizações, com especial enfoque em casos de cânceres.

No entanto, as duas conclusões só consideram as informações de homens chineses, já que os dados são somente desse país e o baixo consumo de bebida alcoólica entre mulheres impossibilitou observar os efeitos da substância entre elas.

GENÉTICA

A metodologia do tipo observacional, adotada por essa pesquisa, não é considerada o melhor tipo para concluir uma relação do efeito de uma substância sobre a saúde dos participantes. Mas, para complementar o levantamento, os autores também se atentaram à genética.

Segundo eles, existem dois instrumentos genéticos associados à quantidade de álcool no organismo. Nos homens, foi visto que a ingestão da substância quando relacionada as questões genéticas teve impacto de aumentar os riscos das doenças listadas pela pesquisa.

Para os cientistas, é importante que estudos futuros também utilizem dados sobre a genética dos participantes a fim de construir a relação entre álcool e surgimento de doenças. Outro ponto defendido por eles é a necessidade de mais estudos globais para observar se as conclusões da pesquisa também são vistas por outras investigações.

Por outro lado, pesquisas com enfoques regionais também são necessárias. O levantamento recém-publicado foi um dos únicos a considerar dados de pessoas chinesas, já que estudos anteriores contavam com uma amostra populacional principalmente ocidental.

VEJA QUAIS SÃO AS 61 COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS AO ÁLCOOL

Tuberculose

Câncer de laringe

Câncer de esôfago

Câncer de fígado

Tumores incertos (orelha média/respiratória/intratorácica)

Câncer de colo

Câncer de pulmão

Câncer retal

Outros cânceres

Câncer de lábio, cavidade oral e faringe

Câncer de estômago

Outras anemias

Púrpura e outras condições hemorrágicas

Outros distúrbios metabólicos

Diabetes mellitus

Condições psiquiátricas e comportamentais menos comuns

Epilepsia

Ataques isquêmicos cerebrais transitórios

Catarata

Flebite e tromboflebite

Cardiomiopatia

Hemorragia intracerebral

Sequelas de doença cerebrovascular

Doença cardíaca hipertensiva

Hipertensão essencial (primária)

Infarto cerebral

Complicações da doença cardíaca

Derrame não especificado

Oclusão e estenose das artérias cerebrais

Oclusão e estenose das artérias pré-cerebrais

Outras doenças cerebrovasculares

Doença cardíaca isquêmica crônica

Doenças circulatórias menos comuns

Bronquite crônica não especificada

Outra doença pulmonar obstrutiva crônica

Pneumonia

Doença hepática alcoólica

Fibrose e cirrose do fígado

Outras doenças inflamatórias do fígado

Abscesso das regiões anal e retal

Refluxo gastroesofágico

Úlcera gástrica

Outras doenças do aparelho digestivo

Outras doenças do fígado

Pancreatite

Outras infecções locais (pele/tecido subcutâneo)

Osteonecrose

Gota

Outra artrose

Resultados anormais de estudos de função

Mal-estar e fadiga

Outras causas de mortalidade mal definidas/não especificadas

Causas de morbidade desconhecidas/não especificadas

Fratura de ombro e braço

Fratura do fêmur

Fratura de costela(s)/esterno/coluna torácica

Lesões menos comuns, envenenamento e outras causas externas

Autoagressão intencional

Quedas

Acidentes de transporte

Outras causas externas

Autor(es): SAMUEL FERNANDES / FOLHAPRESS

Compartilhe: