SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A atriz Fernanda Montenegro e sua filha, Fernanda Torres, não poderão comparecer ao casamento de José Celso Martinez Corrêa, 86, e Marcelo Drummond, 60, no próximo dia 6, em São Paulo, mas preparam um presente especial: vão dar um ipê ao casal. E não trata-se de uma muda não, mas, sim, de uma árvore já grande.
A equipe das atrizes entrou em contato com Zé Celso na semana passada para falar sobre o assunto. À coluna, o dramaturgo diz ver no presente uma posição das artistas a favor do seu projeto de criar o parque do Rio Bexiga em terreno perto do Teatro Oficina, na região central de São Paulo.
Desde 1980, o local é centro de uma disputa que envolve Zé Celso e o apresentador Silvio Santos. O empresário é o dono do lugar e pretendia construir ali três torres de até cem metros de altura.
“É um presente de casamento ousado e revolucionário. Só pessoas com a imaginação intelectual delas podem perceber o grande significado dessa árvore, porque nós vamos plantar exatamente no terreno onde vamos fazer o parque do Bexiga. O ipê vai praticamente abrir o parque. Então, de alguma maneira, elas vão entrar nessa luta de conseguir com o Silvio Santos o terreno”, afirma Zé Celso.
A equipe que organiza o casamento, aliás, planejava convidar o empresário para a celebração com uma sugestiva indicação de presente: que Silvio doasse o terreno perto do Oficina.
Para Zé Celso, o ipê dado por mãe e filha é também uma forma de protesto contra as derrotas impostas à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pelo Congresso Nacional. Medida provisória aprovada na semana passava prevê mudanças na estrutura do governo que fortalecem o centrão e retiram poder de Marina.
“Só duas mulheres tão inteligentes e tão decisivas para a cultural brasileira fariam isso neste momento em que sofremos esse problema asqueroso com esse Congresso, que atingiu o Meio Ambiente e os Povos Indígenas”, afirma o diretor, em áudio enviado à coluna.
A defesa do meio ambiente dará o tom à cerimônia de casamento. A cantora Daniela Mercury, que se apresentará ao fim da celebração, definiu com os noivos que cantará “Amor de Índio”, “Terra” e “Macunaíma”, esta última, música que fez em parceria com Zé Celso.
O ator e diretor Ricardo Bittencourt organiza o evento que, segundo ele, “será artístico-ecumênico”. “Vamos ter oradores e artistas se apresentando”, diz.
Serão, ao todo, 350 convidados. Marina Lima cantará na entrada dos noivos, que se conheceram ao som de “Fullgás”, um de seus hits.
Também já está definido que a atriz Bete Coelho fará a leitura de um texto adaptado por Zé Celso de “Fedro”, de Platão.
Marcelo e Zé Celso se conheceram no Teatro Oficina, em 1986. Um mês depois estavam dividindo apartamento, e assim continuam até hoje, numa relação de amor e companheirismo, em que o sexo está longe de ser uma das prioridades.
“Estamos casados pela vida que vivemos, compartilhamos tudo. Moramos juntos, mas não transamos há mais de 20 anos, cada um tem seus amantes”, disse Drummond à coluna, deixando transparecer que a postura libertária e dionisíaca do companheiro e dele também não se restringe ao discurso e às suas produções teatrais.
A decisão de oficializar a união veio por questões práticas. Personagem fundamental na história do teatro brasileiro e um dos fundadores do Oficina, Zé Celso não tem herdeiros diretos e preocupa-se com a burocracia que seu companheiro irá enfrentar depois de sua morte.
Autor(es): MÔNICA BERGAMO / FOLHAPRESS