Juros no Brasil estão em níveis atraentes e há boas oportunidades, diz BlackRock

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um cenário de desaceleração da inflação nos últimos meses, com a Selic ainda inalterada no patamar de 13,75% ao ano, o mercado brasileiro de juros está em níveis atrativos e oferece algumas boas oportunidades aos investidores.

A avaliação é de Amer Bisat, chefe de renda fixa para mercados emergentes da BlackRock, uma das maiores gestoras de recursos em escala global, com cerca de US$ 9 trilhões (R$ 45,5 trilhões) em ativos.

“Os juros reais no Brasil parecem muito atrativos”, afirmou Bisat nesta terça-feira (30) durante conversa com jornalistas. “Estamos vendo boas oportunidades no Brasil.”

Segundo o especialista, mesmo no mercado de crédito corporativo do país, que passou por turbulências recentes na esteira de dificuldades envolvendo nomes como Americanas e Light, há empresas rentáveis e de boa qualidade no radar da BlackRock. Ele não quis especificar quais são esses nomes.

Ele acrescentou que, se o país conseguir endereçar os desafios fiscais e avançar com reformas estruturais que abram espaço para uma atuação maior do setor privado na economia, como a reforma tributária, o PIB (Produto Interno Bruto) tem potencial para voltar a crescer acima do ritmo atual.

Bisat afirmou estar otimista com as perspectivas para a economia local, e que o país tem um “enorme potencial” de crescimento.

Ele preferiu não fazer uma avaliação sobre o espaço para o início do corte de juros pelo BC (Banco Central) aberto pela recente desaceleração da inflação, mas ponderou que os juros no país estão em níveis bastante altos e que os emergentes da América Latina devem ser os primeiros a começar a flexibilização das condições monetárias.

O gestor da BlackRock reconheceu, contudo, que o ambiente global não é dos mais favoráveis no momento, com a maior parte dos países convivendo com taxas de juros acima da média histórica, processo que deve levar a uma desaceleração nas taxas de expansão da atividade econômica mundial.

No caso dos emergentes, prosseguiu, um crescimento abaixo do visto nos últimos anos da China é um ponto de atenção que pode se refletir em um menor crescimento generalizado entre os pares.

Em um mundo em transformação, os governos que reagirem primeiro para se destacar frente aos pares serão os mais beneficiados e entrarão no radar dos agentes de mercado, enquanto aqueles que ignorarem os problemas vão ficar em segundo plano, disse o especialista.

“Colocaria o Brasil no primeiro grupo. Se o governo trabalhar o fiscal e fizer as reformas estruturais, tem grande potencial.”

Bisat afirmou também que, em um cenário de baixo crescimento global, um risco acompanhado de perto pelos investidores globais diz respeito à adoção de políticas populistas por parte dos governos, com aumento dos gastos e do endividamento público.

“Sabemos que [o aumento da] dívida tende a ser ruim para o crescimento no longo prazo”, disse o especialista.

Ele afirmou ainda que, até algumas décadas atrás, a abordagem do investimento em mercados emergentes era feita de maneira unificada pela maior parte dos investidores, que consideravam todos os países dentro de um mesmo bloco, que vinha sendo beneficiado por grandes tendências como a globalização e a redução do endividamento.

Hoje é preciso uma análise mais minuciosa do grupo, fazendo uma seleção daqueles países que apresentam melhores perspectivas para suas economias, em um ambiente de desglobalização e aumento do endividamento dos governos, disse o gestor da BlackRock.

“Não quero dizer que os emergentes não são interessantes como investimento. Acho que são muito interessantes e há muitas oportunidades. No entanto, não se pode atuar nesse mercado como antes. É preciso uma nova abordagem”, disse Bisat.

Autor(es): LUCAS BOMBANA / FOLHAPRESS

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