SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A trajetória profissional de João Zanforlin Schablatura começou cedo e aos 15 anos ele já fazia parte da equipe de reportagem da Rádio Piratininga de Piraju, a 340 km da capital paulista. Nascido na pequena Timburi (2.652 habitantes no Censo de 2020), ele foi para a cidade vizinha (34 km de distância) para seguir um dos seus sonhos: ser jornalista.
Anos depois, como o jornalismo na época não exigia diploma, ele cursou direito na FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) e, formado, passou a se dividir entre as coberturas jornalísticas e as ações nos tribunais.
Naquela época, ele já havia sido contratado pela Rádio Bandeirantes de São Paulo, após se destacar na cobertura do vice-campeonato da segunda divisão do Campeonato Paulista (atual Série A3) pelo Piraju FC, em 1964, aos 16 anos de idade.
Como radialista, ele passou a se destacar justamente nos eventos esportivos. Em mais de 50 anos de carreira, trabalhou na cobertura das Copas do Mundo de 1970 a 1998 e das Olmpíadas de 1972 a 1996, além de acompanhar jogos dos campeonatos nacionais de futebol nos estádios, como repórter e, posteriormente, como comentarista.
Zanforlin ficou mais de 20 anos no Grupo Bandeirantes, também participando das transmissões televisivas. Quando saiu da empresa, teve uma breve passagem pelo SBT antes de se transferir para a TV Cultura, na qual continuou sua carreira até se aposentar do microfone no início dos anos 2000, passando a se dedicar apenas à advocacia.
“Ele sempre exerceu as duas profissões, de advogado e de jornalista. Obviamente que no começo o jornalismo predominava por causa dos jogos fora de São Paulo que exigiram muitas viagens. Era uma vida sempre bastante agitada”, conta a filha, Daniela Barbosa Schablatura Themudo Lessa, 43.
Suas ações como advogado começaram ainda em Piraju, defendendo o clube da cidade nos tribunais desportivos, trabalho que desempenhou pelo Corinthians, seu time do coração, no qual foi diretor jurídico por muitos anos.
“Todos no Corinthians falaram que o time é que tinha que agradecer ao meu pai. O Alessandro [gerente de futebol] o destacou não só como corintiano, mas pela pessoa que ele era, pelo caráter e pela integridade”, conta a filha. “A relação deles era muito bacana porque era corintiano e no fundo acabou juntando a paixão com a profissão. Ele ficava vibrando a cada jogo e já pensando em qual estratégia usaria para defender o clube no tribunal se desse algum problema.”
Zanforlin ainda trabalhou no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) e defendeu a Portuguesa no polêmico caso Héverton, julgamento que rebaixou a equipe para a Série B do Brasileiro em 2013.
Enquanto não estava trabalhando, a paixão de João Zanforlin era assistir a jogos de futebol e jogar truco. Segundo a filha, ele também curtia passar o tempo com os netos Gabriela e Eduardo. Além disso, mantinha a rotina de tomar café na padaria com a mulher, Heloísa, 72, de comer feijoada no restaurante da esquina de casa, de fazer churrasco com o genro, Tiago, e de viajar para Cachoeiro Paulista (a 194 km da capital) para visitar os familiares da mulher.
“Ele era uma pessoa extremamente simples, bem-humorada, alto astral. Com ele não tinha tempo ruim. Brincalhão, ele era aquele tio de quem todo mundo gosta”, completa Daniela, destacando que o pai tratava todo mundo sempre igual.
João Zanforlin morreu no dia 29 de maio, aos 75 anos, em São Paulo. Ele lutava contra um linfoma não Hodgkin e teve sepse (infecção generalizada). Seu corpo foi cremado no crematório da Vila Alpina. Ele deixa a mulher, Heloísa, a filha, Daniela, e os netos Gabriela e Eduardo.
Autor(es): CLAUDINEI QUEIROZ / FOLHAPRESS